Marcos Maivado Marinho
O professor Heretiano Gurjão Filho, que morreu vitimado por
fulminante infarto no finalzinho do ano passado deixando em Campina
Grande a família enlutada e uma legião de alunos admiradores, foi
efusivamente saudado hoje (30) em sua página no Facebook pela data
natalícia.
Nada anormal se a saudação fosse póstuma, como seria o correto, até
porque a página se mantém no ar. Ocorre que os que o saudaram, dentre
eles um seu colega da Universidade Federal de Campina Grande, o vereador
Lula Cabral, postou texto com efusivos “parabéns”, numa insensatez
vergonhosa. “Parabéns !! O Senhor é a sua força, o seu escudo, é a sua
confiança, é a sua esperança. O Senhor é o seu refúgio, é o seu ungido,
o Senhor te dá forças, e te abençoa com a Paz”, alegrou-se.
Já Marcus Damião de Lacerda desejou “muita saúde, paz, realizações e conquistas na sua vida pessoal familiar e profissional”.
E até o extremamente bem informado jornalista Apolinário Pimentel não
conseguiu escapar desse mico virtual: “PARABÉNS, AMIGO. SAÚDE E PAZ”,
postou assim mesmo em caixa alta, curto e grosso.
Naihara Gurjão, que pelo sobrenome denuncia a ligação familiar, declamou
um poema evocando “A Idade de Ser Feliz”, aquela em que, segundo o
poema postado, “é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante
para realizá-los”.
O corpo do cantor Reginaldo Rossi ainda estava insepulto quando eu vi,
na galeria de imprensa da Câmara Municipal, durante a última sessão do
ano (extraordinária, inclusive), Projeto de Lei Ordinária de autoria do
vereador Lula Cabral (PRB) para que o nome do artista seja dado a “um
dos logradouros inominados de Campina Grande”.
VACILO DO VEREADOR
O “vacilo” do vereaor Lula Cabral é de fato imperdoável. Não
somente por ser ele um representante do povo, mas porque foi colega de
universidade na mesma UFCG onde Heretiano dava aulas. Portanto, não pode
negar que não soube da morte do amigo.
E logo Lula, um esperto e apressado edil que sempre se mostrou
preocupado em dar nome de ruas a celebridades, protocolando os pedidos
ainda com os mortos insepultos, como se deu com Mandella e quase ocorria
com Reginaldo Rossi, conforme registrou em seu blog Lenildo Ferreira,
que é assessor do Legislativo municipal campinense.
“O corpo do cantor Reginaldo Rossi ainda estava insepulto quando eu vi,
na galeria de imprensa da Câmara Municipal, durante a última sessão do
ano (extraordinária, inclusive), Projeto de Lei Ordinária de autoria do
vereador Lula Cabral (PRB) para que o nome do artista fosse dado a um
dos logradouros inominados de Campina Grande”, informou Lenildo.
Diz anda Lenildo que, como era uma sexta-feira, o protocolo de Lula para
homenagear Rossi foi feito apenas na segunda, 23, dois dias após o
sepultamento do cantor. Esse detalhe evitou que o projeto fosse
registrado antes de o intérprete de “Garçom” descer à cripta, o que, no
entanto, não deixa de impressionar pela celeridade do parlamentar em
homenagear o “rei do brega”.
Outro famoso, no entanto, conseguiu ser homenageado por Lula Cabral
antes do sepultamento. Trata-se do grande líder mundial Nelson Mandela. O
ex-presidente da África do Sul e prêmio Nobel da Paz faleceu no dia 05
de dezembro de 2013, mas o enterro aconteceu apenas dez dias depois.
Nesse meio tempo Lula protocolou não um, mas dois projetos. O primeiro,
no dia seguinte à morte do estadista, dando seu nome à futura Alça
Leste; e o segundo no dia 10, batizando de Nelson Rolihlahla Mandela
“uma das novas escolas a ser construída no município”.
“Talvez nem mesmo a grandeza de Mandela justifique tanta pressa em
batizar um logradouro público. A culpa, no entanto, talvez seja de quem
resolveu manter o corpo insepulto durante dez dias... Não é?”, ironizou o
jornalista campinense.
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