Seu Antônio Carolino de Abreu morreu aos 104 anos. Morava no sítio
Barra do Catolé, zona rural de Cajazeiras, no Alto Sertão da Paraíba, a
475 quilômetros da capital João Pessoa. Orgulhava-se de ter sido coitero
de José Pereira, cangaceiro da década de 30, e devoto de Nossa Senhora.
Um dos seus 12 filhos, seu João Carolino, que faleceu aos 88 anos em
2010, também era adorador da santa. Contava aos netos de seu Antônio que
rezava o terço todos os dias, às 18h, do alpendre da casa onde nasceu,
“sempre olhando para a santa”.
Netos de seu Antônio e filhos de seu João não conseguiam ter a mesma
visão. O alpendre era de uma casa antiga, de alvenaria, toda branca e
encravada sobre uma rocha. Seu João nasceu ali. Os seus oito filhos
também. A imagem estava escondia por arbustos típicos da região, que
foram desmatados há pouco tempo. Mesmo assim, só descoberta no domingo,
29 de julho passado.
Foi a filha de seu João, Francisca Carolino, 55, quem viu primeiro.
“Olha lá, a imagem de Nossa Senhora”, apontou. Era uma rocha. O lado
oposto da pedra em forma de um triângulo, da altura de um brasileiro
mediano (1m70cm), desenha o perfil de uma santa.
No alpendre da casa, que está sendo reformada, estavam cerca de 30
amigos da família. “É uma santa”, concordou Sinfrônio de Lima, 74,
evangélico, que ficou impressionado com os detalhes da rocha, a uns 100
metros da casa.
A zona rural de Cajazeiras sofre com a estiagem prolongada. Boa parte
está sendo abastecida por carros-pipas do Exército brasileiro. No sítio
Barra do Catolé , que fica aproximadamente 12 quilômetros da cidade, é
essa a realidade. Não tem água para o consumo humano.
Cajazeiras é situado na extremidade ocidental da Paraíba. Pertencente
à mesorregião do Sertão paraibano. Localiza-se a oeste da capital do
Estado e ocupa uma área de 586,275 km², dos quais 2,8193 km² estão em
perímetro urbano. Sua população, recenseada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística em 2010, foi de 58.437 habitantes, sendo o
oitavo município mais populoso do Estado.
Quase 90% dessa população é de católicos, como a família Carolino.
Seu João rezava um terço sempre com as mãos cruzadas de frente para a
rocha. O desenho natural que se forma é de uma senhora, longilínea,
coberta com um véu e com as mãos cruzadas à altura dos quadris. Obra da
natureza. Até hoje, não há registros de nenhuma intervenção humana.
A maior parte do território do município de Cajazeiras é constituída
por rochas resistentes, e bastantes antigas, que remontam à era
pré-cambriana com mais de 2,5 bilhões de anos. Sua temperatura média
anual varia entre 23° C e 30° C e na vegetação predomina a caatinga. O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Cajazeiras é de 0,685,
considerando como médio em relação ao Estado.
Aos 78 anos, seu João se submeteu a uma cirurgia num hospital de João
Pessoa. Sedado, balbuciou algumas palavras. Brigava com os médicos que
insistiam em não deixa-lo falar com “a senhora de branco”. Quando
retornou da anestesia, contou aos filhos que viu Nossa Senhora por duas
vezes no hospital.
Para o arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto, o melhor é ter
precaução com o surgimento dessas imagens. “O importante é que o
católico se forme biblicamente, para seguir o caminho de Jesus, pelo bom
exemplo, pelo testemunho e por uma orientação mais específica”,
observa. Contudo, lembra que em cidades próximas de Cajazeiras existem
fenômenos naturais como esse, aceitos pela Igreja Católica. Cita como
exemplo rochas que foram descobertas na cidade do Crato (CE), onde
também estaria desenhada a imagem de Nossa Senhora.
Para a literatura católica, a descrição não é novidade. Consta que no
século IV, em Roma (Itália), um nobre não tinha herdeiros e resolveu
consagrar sua fortuna a Deus. Uma noite, Nossa Senhora apareceu-lhe em
sonho e pediu para edificar uma basílica numa colina que apareceria,
noutro dia, coberta de neve. Era noite madrugada de 5 de agosto. Pela
manhã, o monte Esquilino, apesar do verão italiano, estava coberto de
neve, formando a silhueta da santa. O jovem construiu a Basílica de
Nossa Senhora das Neves, hoje Santa Maria Maior.
Nossa Senhora das Neves é padroeira de João Pessoa, que comemora 427 anos neste domingo (05).
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