
Não digam que as medidas são moralizadoras e anti-corrupção, porque
não são. A corrupção continua correndo solta na buraqueira eleitoral, só
que, agora, corrompe os gravatudos, os poderosos, os ditos homens
públicos. O eleitor continua levando peia no lombo e ajudando a levantar
políticos que só se lembram dele no período da campanha. E sem o boi da
eleição de antigamente.
O boi da eleição era mais gostoso do que o boi do açougue. Eu, menino
em Princesa, cansei de entrar na fila do boi cozido de Seu Mano, para
comer aquela carne que Maria Aurora, devidamente assessorada por Maria
Munbaça, preparava para os eleitores. Era no acochado da cozinha que eu
tirava o bucho da miséria e ainda afogava o ganso nas bundas carnudas e
torneadas das matutas da Lagoa de São João, que passavam três dias sem
comer antes de viajarem a Princesa com o fito de cumprirem o dever
cívico de votar e o prazer veterinário de comerem carne de boi.
Antonio Belo, cabra comedor, naquela eleição de 78 preparou-se para
votar como fazia todos os anos:roupa nova, alpercata de rabicho nos pés e
um apetite de jumento. Dirigiu-se à casa de Seu Mano para o regabofe
que acontecia de quatro em quatro anos e esqueceu do mundo, comendo.
Passou nos peitos mais de oito pratos e depois de beber dois canecos
d´água, desceu a praça Zé Nominando em direção ao Instituto Frei
Anastácio, onde se localizava sua secção eleitoral, para votar em Dr.
Antonio Nominando. Andou se torcendo, empanzinado. Entrou no amplo salão
que João Mandu construiu, dirigiu-se ‘a mesa presidida por Durval
Campos, recebeu a cédula e se trancou na cabine indevassável. Era,
naquele tempo, uma cabine que parecia cabana de acampamento. Feita de
pano vermelho e pau de tabique, tinha uma portinha que se fechava quando
o eleitor entrava, de modo que ninguém de fora poderia, mesmo
espichando o pescoço, ver quem estava lá dentro.
Antonio Belo entrou, se trancou e sumiu do mapa. Ninguém escutava um
gemido. Vinte minutos depois, o presidente Durval levantou-se da mesa e
foi até a casinha de pano, sem esconder a preocupação com a demora e com
a fila que começava a crescer. Empurrou a portinhola e lá de dentro
escutou a voz gemida de Antonio Belo dizer:
-Tem gente!Blogdotiaolucena
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