Há
muito tempo foi reconhecido no campo da fisiologia do exercício que um
programa de musculação bem planejado pode reduzir a perda de massa
muscular que acompanha o envelhecimento.
Um
estudo publicado este ano no Journals of Gerontology concluiu que esta
modalidade física também pode ocasionar benefícios para pacientes, que
sofrem de câncer de próstata e que são submetidos a Terapia de Privação
de Andrógeno (TPA).
Esta
terapia é um tratamento que suprime os níveis de testosterona
(principal hormônio masculino), que embora tenha muitas funções
importantes, também pode estimular o crescimento de células cancerígenas
da próstata.
Segundo
o Dr. Ira Sharlip, um respeitado professor de urologia da University of
California SanFrancisco (UCSF), e que não possui nenhum relacionamento
com o estudo, o câncer de próstata é o tipo de câncer mais comum na
população masculina nos Estados Unidos.
“Os
pacientes com câncer de próstata metastático são direcionados para a
terapia de privação de andrógeno, o que ocasiona neles ao longo do
tratamento níveis pré-púberais de testosterona, ou seja, níveis
encontrados em jovens antes da puberdade que são considerados
fisiologicamente insignificantes (insuficientes) para um adulto”,
afirmou o Dr. Sharlip.
A
supressão da testosterona endógena que é resultado do tratamento TPA,
ocasiona efeitos colaterais desconfortáveis aos pacientes, como por
exemplo, a redução da massa muscular, da força e resulta em níveis mais
elevados de fadiga e de gordura corporal. O recente estudo sugere uma
possível forma de combater alguns desses efeitos.
A
investigação, que foi conduzida pelos pesquisadores da University of
Maryland, concluiu que os pacientes com câncer de próstata submetidos a
TPA, e que aderiram a um programa de musculação, tiveram um aumento
significativo do volume da massa muscular, da potência e da força. Além
disso, os participantes apresentaram melhorias significativas no
desempenho funcional relacionados ao cotidiano, na resistência muscular e
na qualidade de vida.
Desse
modo, os investigadores concluíram que a adesão a um programa de
musculação aumentou a massa muscular dos pacientes, mesmo com níveis
insignificantes de testosterona. Consequentemente, tal modalide física
pode ser uma peça fundamental no combate aos efeitos adversos ligados a
TPA em indivíduos com câncer de próstata.
Outros
estudos também examinaram o papel da musculação em pacientes com câncer
de próstata submetidos a TPA. No entanto, o estudo dos pesquisadores
da University of Maryland foi o primeiro a relatar os aumentos da massa
muscular total e de medições diretas da hipertrofia em pacientes com
esse quadro clínico, que haviam sido submetidos a um programa de
musculação.
“Nosso
estudo foi o primeiro realizado somente em pacientes afro-americanos,
mas nossas observações sobre os benefícios da prática da modalidade em
pacientes com câncer de próstata submetidos à terapia de privação de
andrógeno podem ser estendidas a outras etnias,” acrescentou o Dr. Ben
Hurley, que é um dos principais investigadores do estudo.
Além
disso, solicitei ao Dr. Hurley que comentasse sobre o fato de a
hipertrofia muscular ocorrer nos participantes da investigação, apesar
de os níveis da testosterona serem considerados insignificantes nesse
contexto.
De
acordo com ele, há uma concepção enraizada dentro da literatura da
fisiologia do exercício, que a testosterona é necessária, que ela é um
pré-requisito indispensável para o aumento da massa muscular, mas que no
entanto, o seu estudo mostrou que não é esse o caso.
“O
nosso estudo sugere que, mesmo quando as pessoas têm uma drástica
redução no nível de testosterona, existe algum tipo de mecanismo
compensatório dentro do organismo que não sabemos exatamente definí-lo,
que passa a funcionar permitindo suprir tal perda, a fim de aumentar a
massa muscular”, acrescentou o Dr. Hurley.
Assim
sendo, compreende-se que as diversas hipóteses envolvendo os mecanismos
fisiológicos específicos pelos quais a hipertrofia muscular ocorre em
pacientes, apesar deles terem níveis de testosterona insignificantes, é
um assunto de grande curiosidade dentro do meio científico.
Consequentemente,
em conversa pelo telefone, eu perguntei ao Dr. Stefano Schiaffino, um
especialista dentro da fisiologia muscular no Venetian Institute of
Molecular Medicine, sobre a hipertrofia obtida pelos pacientes apesar
deles terem níveis baixos de testosterona.
De
acordo com ele, o efeito da prática da musculação pode aumentar a massa
muscular nos praticantes através de mecanismos fisiológicos que são
independentes dos níveis de testosterona. “A hipertrofia do músculo é
controlada por uma variedade de vias de sinalização, algumas das quais
foram recentemente descobertas e estão relacionadas com as proteínas
morfogenéticas do osso (BMPs). Estas proteínas parecem ser responsáveis
pela hipertrofia muscular induzida por mutações da miostatina”. Ele
complementa, “Esta importante descoberta realizada pelo grupo de
pesquisa liderado pelo Dr. Marco Sandri no Venetian Institute of
Molecular Medicine em Pádua será publicada em breve na revista Nature
Genetics“.
Embora
os benefícios fisiológicos acarretados pela prática regular dos
exercícios aeróbicos sejam mais do que reconhecidos há algum tempo, a
importância da musculação tem sido ofuscada e não tem recebido o devido
reconhecimento por muitos. Por outro lado, à medida que um número maior
de pesquisadores passar a conduzir estudos que utilizem a musculação
para tratar pacientes com outros quadros clínicos, os seus benefícios
provavelmente ficarão ainda mais em evidência.
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