quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Reportagem de EXPRESSO mostra que em Mari/PB cabos eleitorais ‘garimpam’ apoio de eleitores pobres e pagam alguns trocados pelo voto


Última reportagem da série “Quanto vale sue voto?” foi publicada na edição de dezembro da Revista EXPRESSO 
Fac-símile da página da reportagem da Revista Expresso
Fac-símile da página da reportagem da Revista Expresso
Após mostrar os casos de possíveis compra de votos na cidade de Duas Estradas, no brejo da PB, na edição de novembro, a Revista EXPRESSO, em sua edição de dezembro ‘desnudou’ a realidade das eleições em outra cidade da Paraíba.
Desta vez foi em Mari o ‘flagra’ de compra de votos praticado por cabos eleitorais que usam a dificuldade das pessoas mais necessitadas para torná-las cada vez mais ‘escravas’ daquela situação, conforme o leitor passa a conferir a seguir:
Quanto vale seu voto? - Em Mari, cabos eleitorais ‘garimpam’ apoio de eleitores pobres e pagam alguns trocados pelo voto
Era uma manhã ensolarada de sexta-feira – 03 de outubro – ante véspera do 1º turno da eleição deste ano, o casebre de Seu José (nome fictício usado por EXPRESSO) estava pronto para a distribuição de dinheiro. “Use a consciência, só quero somente isso”, diz uma mulher a uma meia dezena de pessoas que dividiam espaço na pequena sala da cozinha, um aposento simples e pouco ventilado. Foi quando, uma das pessoas que ali estava que resolveu filmar a cena, de forma bastante discreta e disfarçada. As imagens registradas em um bairro periférico da cidade de Mari, localizada na mata paraibana, serviram de provas para um inquérito que ainda está em andamento na Polícia Federal sobre suposta compra de votos por parte de agentes públicos daquele município.
O vídeo que mostra imagens tremulas e som não estéreo foi entregue à justiça eleitoral junto com a denúncia escrita, certamente servirá como documentário para mostrar um Brasil que permanece no vício da corrupção eleitoral e que levará tempo para se libertar desse mal.
Na localidade onde foi feito o flagra da possível compra de votos a pobreza habita todos os detalhes: lama na rua correndo a céu aberto, o lixo e o mato na virada da esquina e o corre-corre de crianças descalças e sem camisa revela bem a ausência do poder público no local, que só se faz presente mesmo através de seus agentes em época de eleição.
A mulher referida no início desta reportagem é funcionária com cargo de confiança na Secretaria de Educação do município de Mari, figura bastante conhecida no dia-a-dia da população mais carente, já que apesar de ser lotada na educação trabalha na Secretaria de Desenvolvimento Social.
De pé, encostada a uma geladeira e vez ou outra andando de um lado para o outro, a mulher começa uma conversa.
- Use a consciência, só quero somente isso de vocês – diz ela
- Tá, me dê pelo meno uns vinte “conto, homi” – pede um homem que está de pé e circula pelo recinto com um chapéu laranja (cor utilizada na campanha de um dos candidatos ao Governo do Estado da Paraiba e que na cidade teve o Prefeito local como principal apoiador político).
- O que ta vindo aqui já ta tudo contado a quantidade que eu mandei – diz a mulher para justificar que não teria como atender o homem.
- Agora, posso dá vinte “conto” amanhã, que agora eu num tenho – promete a mulher.
- “Apoi” me dê uma chapinha ai – insiste o homem.
A mulher não atendeu ao homem do diálogo, mas em contrapartida atendeu a várias pessoas que se encontravam no local que recebiam e saiam imediatamente, conforme confirma o vídeo que EXPRESSO teve acesso com exclusividade.
As notas de dinheiro passeiam para lá e para cá sob o olhar atento de uma senhora que encontra-se sentada em uma cadeira junto a mesa enquanto outras conversam entre si.
- Já recebeu o seu? – indaga a cabo eleitoral.
- Não – responde a senhora.
-Tome – diz a mulher estendendo o braço em direção à senhora, entregando-lhe algumas notas de real, que na filmagem não dá para identificar o valor.
O dinheiro contado e anotado ao qual a mulher se referia na gravação era cédulas como esta da imagem, apreendida no dia da eleição durante operação da Polícia Federal em uma farmácia de propriedade de um Secretário do município, alvo de outra denúncia feita a PF também na véspera da eleição do 1º turno.
Segundo informações exclusivas obtidas por EXPRESSO, a Polícia Federal e a Justiça Eleitoral teriam apreendido o material da imagem e outros documentos durante essa operação realizada com base nessas e em outras denúncias de suposta compra de votos praticadas por agentes públicos, servidores e cabos eleitorais aliados do atual mandatário do poder local.
Temendo represálias, apesar de todos saberem dos fatos ,ninguém ousa comentar o assunto na cidade, pois tem medo do que possa acontecer com eles, já que o histórico de violência e agressões são fatos corriqueiros na política mariense, tampouco EXPRESSO tentou ouvir as pessoas envolvidas, que por sinal não admitem qualquer tipo de comentário a respeito.
Como o processo corre em segredo de justiça, a Editoria do EXPRESSO preferiu usar nomes fictícios para apenas registrar o fato, mas tem sob sua guarda vídeos e cópia da denúncia feita à justiça eleitoral.
Mas o que fazer diante de tamanha cobrança da população em combater a corrupção que começa durante um processo eleitoral e se estende pelas entranhas da máquina pública após as eleições?
A resposta pode estar inicialmente na mudança do processo político eleitoral, na mudança de práticas e costumes da sociedade e no forte investimento dos governos em educação.
Além disso, a utilização de mecanismos de fiscalização por parte da sociedade também é um importante instrumento no combate a corrupção e a compra do voto.
Como mostrou EXPRESSO no início da reportagem, o local onde se deu a possível compra de votos foi justamente na área mais periférica do município de Mari, onde as políticas públicas são mais difíceis de chegarem e certamente onde o poder público é menos cobrado, haja vista, a baixa capacidade cidadã dos moradores do local, fruto da falta do investimento em educação, pois só através dela será possível tornar as pessoas livres e libertas dessas mazelas.

 
Do ExpressoPB

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